Após participação em ato despencar, ativista diz que recesso permitira à população entender melhor pedaladas fiscais e aumentar pressão sobre parlamentares pelo impedimento

Apesar de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter acatado o processo de impeachment contra a presidente, o que levou os movimentos anti-Dilma a voltarem às ruas para grandes atos após quase quatro meses, a oposição não conseguiria tirar a petista do Planalto neste momento. É o que diz ao iG Kim Kataguiri, líder de um dos grupos organizadores dos atos realizados no Brasil neste domingo (13)
"A gente sabe que, hoje, não há votos para o impeachment vencer na Câmara. É um processo que simplesmente não passaria", afirmou Kataguiri, após participar da manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. "Por isso, é importante a pausa neste momento, um período de três meses em que os deputados serão pressionados a se posicionar e o apoio vai ganhar corpo, se convertendo em votos. Tenho grande convicção de que as coisas já serão diferentes até março."
Apoiada pelo governo, a suspensão do recesso parlamentar agilizaria o processo contra Dilma e impediria que deputados conseguissem mais votos para votar a ação de impeachment. É necessário que 2/3 da Câmara – 342 do total de 513 parlamentares – vote pela queda da presidente para que ela seja afastada e, posteriormente, julgada pelo Senado Federal. Acredita-se que, atualmente, cerca de 200 deputados são contra o processo, o que o levaria a ser derrubado no Plenário.
Manifestantes de Brasília inflam boneco gigante da presidente Dilma durante ato em Brasília
Charles Sholl/Futura Press - 13.12.15
Manifestantes de Brasília inflam boneco gigante da presidente Dilma durante ato em Brasília
Assim, a data para o próximo ato – mal recebida por boa parte dos manifestantes presentes na Paulista por ter sido marcada para só daqui a três meses, em 13 de março – acabou sendo escolhida para coincidir com a suposta votação do relatório da ação, já que, de acordo com as fontes dos movimentos, o recesso realmente não será suspenso.
Ao longo do período, os grupos destacam ser importante que a população seja mais bem esclarecida a respeito das pedaladas fiscais do governo Dilma – principal justificativa para a saída da presidente no pedido assinado pelos juristas Hélio Bicudo, Janaína Pascoal e Miguel Reale Jr – para que ajude os grupos na pressão sobre deputados até o momento da votação.
"Além do mais, é uma data simbólica, que coincide com um ano dos atos de 16 de março, os maiores até hoje. Acredito que, em março do ano que vem, conseguiremos superar essa marca. Talvez até celebrando a queda da presidente", disse Kataguiri.
"As coisas serão diferentes até março", afirma Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre
David Shalom/iG São Paulo
"As coisas serão diferentes até março", afirma Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre
Inferior a protestos anteriores
Se, em março passado, os atos contra a presidente chegaram a levar à Avenida Paulista entre 210 mil – segundo o Instituto Datafolha – e 1 milhão de pessoas – de acordo com a Polícia Militar –, o primeiro protesto após a abertura do processo de impeachment passou bem longe disso.
De acordo com o Datafolha, 40,3 mil pessoas estiveram na via ao longo do domingo, número mais de cinco vezes inferior ao registrado pelo mesmo instituto em março – e 3,3 vezes menor do que o de agosto, até então o mais recente dos atos. A PM divulgou balanço de público ainda menor: 30 mil – estimativa mais de 33 vezes menor do que a feita pela corporação no protesto do início do ano.
"Para nós, foi ótimo. Fizemos a divulgação do protesto com apenas nove dias de antecedência. Achei até que fosse vir menos gente", amenizou Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua. O grupo estimou o público em cerca de 100 mil pessoas. "Além disso, o movimento vai muito além do que aquilo que vemos nas ruas. Estamos no Congresso, nas redes sociais. A pressão em cima dos deputados, para buscarmos o apoio necessário para derrubar a Dilma, é constante. Ela não para."
STF e Cunha como alvos 
Em um momento em que Brasília vive um período caótico, com processo de impeachment aberto ao mesmo tempo em que Cunha tenta impedir a ação que visa a caçar seu mandato na Câmara, o ato deste domingo também teve como foco a crítica a outros nomes da política nacional. E não só a Lula e outros petistas, mas também a figuras que até então não haviam sido criticadas pelos movimentos, como magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ponto em que as opiniões de grupos pró-impeachment convergem com as dos defensores da presidente, a cassação do peemedebista foi pedida pelos dois movimentos que organizaram os atos deste domingo - o Movimento Brasil Livre, de Kataguiri, e o Vem Pra Rua, de Chequer.
As críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, que exigiu que a Corte estabeleça como serão os ritos do processo num caso a ser julgado na próxima quarta-feira (16), foram mais contundentes. Entre os pedidos da ação, aberta pelo PSOL, está a de que a escolha da comissão do impeachment da Câmara seja feita em votação aberta, e não secreta, como ocorreu.
O MBL, por exemplo, colocou sobre seu palco um balão inflável com o rosto do magistrado ao lado de um de Lula fantasiado de presidiário. "Ele é um aliado do PT, temos gravações que o mostram apoiando a eleição de Dilma abertamente. Claramente, o Fachin acatou o processo para anular a votação da comissão, não por um embasamento jurídico", disse Kataguiri.
"É preocupante o Judiciário ceder às pressões do Executivo. Se o STF empacar o processo, vamos, sim, pressionar a Corte, assim como fizemos com instituições ao longo do ano", resumiu Chequer.

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